terapeuta de férias

Eu venho há anos entrando e saindo de terapias, geralmente só entrando quando estou no limite da minha paciência com a minha própria falta de entendimento do mundo e da vida e saindo assim que as contas apertam no fim do mês. Mas há um ano eu finalmente tomei a decisão de seguir sempre com terapia e incluir nas despesas essenciais. Eu encontrei uma terapeuta com sinergia comigo e agora nao paro mais. Ela é junguiana, mas eu só fiquei sabendo lá pela quinta sessão. Então conclui que a linha seguida não importa muito se estamos ambas felizes com a terapia. Antes eu já havia tentado a lacaniana com um terapeuta de meia idade em um consultório com cortinas de veludo até o chão e poltronas de couro. Isso lá em Curitiba ainda na época de faculdade. Lógico que não rendeu nem cinco sessões. Depois eu fiz com uma estudante de psicologia da PUC-PR no consultório para a comunidade. Foi bem bacana mas eu manipulava a pobre futura terapeuta. Na última sessão antes dela se formar tiramos até uma foto juntas que eu não a menor ideia onde esteja. Aí mudei para São Paulo. E achei que fazer psicanálise freudiana tinha tudo a ver com o momento. Três vezes por semana lá ia eu para os encontros ali perto do metro Vila Madalena. Adorava deitar no sofá, mas odiava não olhar para o rosto da psicanalista. Eu sempre achava que ela estava fazendo lista de mercado. E eu sempre queria mais interação e queria saber a opinião dela e a única coisa que ela dizia era 'por que a minha opinião é tão importante para você?'. Mais confundiu do que ajudou. Até comprei uns livros de Freud para tentar entender um pouco mais o processo e tal. Mas um dia eu estava voltando a pé depois de uma sessão para o meu quartinho alugado na Liga das Senhoras Católica - onde eu morava desde a mudança para São Paulo - quando passei em frente para um prédio na Rua Apinajés (gés) com uma placa de aluga-se na janela do apartamento do segundo andar. A luz estava acessa e eu resolvi interfonar e subir para conhecer. E eu adorei o apartamento. Muito simples mas muito bem distribuído. Piso de taco, cozinha simpática com vitrôs ao lado do fogão, lavanderia com janelão, sala com arandelas, dois bons quartos com armários embutidos antigos e de madeira, um banheiro grande e em ótimo estado. Fiz as contas e descobri que se parasse a psicanálise eu podia alugar o apartamento e finalmente ter um canto para chamar de meu. Eu estava sendenta para ter um lar. Meu quartinho na Liga das Senhoras Católicas era ridículo de pequeno. Era o mais barato e o único disponível quando aluguei. Aluguel e na sessão seguinte interrompi a psicanálise. A contragosto da terapeuta que disse que precisávamos fazer um processo de desligamento, mas eu nem dei bola. Estava com a cabeça na mudança para o apartamento. Eu não tinha nada para levar a não ser roupas e um colchão de solteiro. Mas minha mãe juntou móveis que estavam lá em casa jogados eainda ganhei fogão, geladeira e máquina de lavar da minha avó paterna que estava indo morar em um asilo. Minha mãe veio para cá e fez a mudança toda para mim e quando entrei no apartamento já tinha cara de lar com móveis, garfo na gaveta da cozinha, roupa pendurada no varal. Morei neste apartamento de 2005 a 2008 onde fui muito feliz, pelo menos o que ficou foram os momentos de felicidade. Em 2008, comprei um apartamento pequenininho no mesmo bairro e bastante triste eu fiz a mudança. Eu não queria sair de lá e foi bem traumática ir embora. Muitas e muitas lágrimas derrubadas. Nesta fase eu tive que ir em busca de terapia. Desta vez fui para um tratamento comportamental, com uma terapeuta muito bacana que tinha (tem) consultório em Pinheiros. Foi essencial para me tirar no buraco negro que tinha entrado. Eu estava magoada (uma pessoa me magoou), estava saindo do apê que tanto amava, indo morar em um lugar desconhecido sem memória e estava mais que perdida. Fiquei quase dois anos deprimida. E a terapia comportamental funcionou muito me movimentando com suas tarefas. Mas assim que deixei a tristeza de lado, eu parei. Depois de um ano morando neste apartamento que eu havia comprado (financiado) eu conheci meu atual marido e depois d eum ano de namoro fomos morar juntos em outro apartamento também no mesmo bairro. Mas bem maior, térreo e com um quintal. Uma vista de mato que mais parece um sítio do que um prédio em Perdizes. Moro lá até hoje. Em maio de 2012 eu tive um sonho e acordei muito perturbada. Sonhei que a minha vó Cida amada havia morrido. Fui em busca de nova terapia. E assim comecei com o tratamento junguiano onde estou até hoje e que não pretendo interromper jamais. Em julho do mesmo ano tirei férias para visitar a minha vó. E em agosto ela faleceu. Vai fazer um ano e eu ainda estou de luto. Eu ainda lamento a sua morte. E sonho quase todas as noites com ela e com a casa dela. Na semana passada, durante a terapia, foi sugerido que eu escrevesse a minha biografia já que gosto tanto de ler a biografias de outras pessoas e de ouvir histórias de vida de amigos e conhecidos. A terapeuta acabou de sair de férias e eu ficarei três semanas sem terapia. Nestas três semanas a minha terapia será escrever as minhas memórias neste blog.

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