Outras paisagens


Então em fevereiro eu fiz um ano de trabalho na firma nova. E não tirei férias até o momento. Nessa nossa fase de vida sou PJ e não ganho nadinha de nada na hora de tirar férias. E a grana está muitíssimo curta em casa. Dá para pagar as contas todas, viver com conforto, mas não sobra muito para guardar ou para viajar. Não posso reclamar de nada. Não posso e não quero. Está tudo ótimo. Marido é que está passando por uma crise no trabalho - de falta de e de irritação com... não sabe o que fazer da vida. Fico com pena. Eu sei o quanto é angustiante passar por isso. E tem a eterna questão da grana... Eu nem ligo mais, já pago quase todas as contas há tantos anos... Eu realmente desapeguei de muitas bobagens com as quais eu fui apegada por muitos e muitos anos. Algumas delas são:

- Carreira profissional: é uma bobagem inventada para fazer a gente sacrificar toda uma vida em prol do capitalismo. Trabalhar é importante, grana é importante. Mas carreira profissional é uma groselha... não ligo a mínima para status e ascensão e MBAs e sei lá mais o que. Só quero um trabalho decente, perto de casa, com pessoas legais e um mínimo de coerência.

- Moda: lá no fundo no fundo eu sempre fui desapegada, mas quase comprei. Passei anos tentando ser descolada, gastando grana e preocupação. Hoje eu visto o que me faz sentir bem e simplesmente não compro mais. Tenho vestimentas para duas vidas inteiras. E eu eliminei salto e bolsa. Só ando de tênis ou botas baixas e mochila. Melhor coisa que fiz na vida.

- Estar por dentro da vida cultural: moro em São Paulo há 13 anos e me sentia quase que na obrigação de saber de todos os filmes, livros, exposições e shows. Lia cadernos de cultura e guias semanais e marcava com uma caneta os eventos que eu não podia perder. Por muitos anos eu preenchi a minha vida com programas culturais. Foi maravilhoso. Mas hoje em dia eu quero preencher minhas horas livres comigo mesma. Olho para dentro e ouço o que o meu Eu superior tem a me oferecer.

- Bares, botecos e afins: eu era fissurada em sentar num bar para tomar um chope, uma caipirinha, beliscar algo... queria fazer isso todos os dias após o trabalho. Marido nunca foi muito de sentar em bar, não tinha paciência preferia beber em casa. Eu tinha o hábito de ir todas as quintas-feiras com um grupo de amigas. Mas o grupo meio que dispersou. Três foram embora do Brasil, uma separou-se do marido e desde então está insuportável de tão chata, outra teve dois filhos e a outra não tem mais nada a ver comigo. E o mais surpreendente foi que eu parei de beber! De vez em quando eu bebo uma taça de vinho, um gole de licor e muito de vez em quando um copo de cerveja ou uma caipirinha. Não gosto mais de beber. Descobri que a bebida atrapalha muito. Desalinha. Perdi muito tempo, energia e grana bebendo álcool. Agora só bebo quando quero celebrar.

- Restaurantes: eu gosto de comer bem. E sempre curti conhecer restaurantes novos. Morando em São Paulo isso parece não ter fim. A cada dia um restaurante bom abre as portas. Mas é caro. Muito caro. E eu descobri que gosto mais ainda de cozinhar. Atualmente quase 100% do que como é feito por mim mesma. Estou mais saudável e perdi até uns quilinhos... Cozinhar é um ato sagrado. É um ato de amor. É a minha forma de meditar.



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